sábado, 30 de novembro de 2013

Nivelamento na Pavimentação


      Um problema crônico na pavimentação brasileira é a falta de nivelamento. Tanto em rodovias quanto em vias urbanas é comum a total falta de regularidade do asfalto. Isto devido ao desconhecimento dos sistemas eletrônicos de nivelamento existentes, por falhas de execução ou simplesmente por omissão.
       O brasileiro se acostumou de tal forma com a péssima qualidade do pavimento que, em uma palestra que fizemos sobre Reciclagem de Asfalto, nos foi perguntado se existe algum sistema para regularizar o asfalto durante a pavimentação. Sim, os sistemas eletrônicos de nivelamento existem há décadas e são largamente utilizados em todo o mundo.
      Podemos descrever o sistema de nivelamento eletrônico de uma pavimentadora de asfalto como um mecanismo que copia uma referência externa e transmite para a mesa compactadora executar o asfaltamento com regularidade longitudinal e transversal. Mesmo que a máquina esteja se locomovendo sobre um solo bastante irregular, a referência externa é que vai determinar a regularidade da pavimentação.
       Há duas referências a serem seguidas para regularizar um pavimento: uma longitudinal e uma transversal. A referência longitudinal segue o percurso de avanço da pavimentadora. A referência transversal representa o nível em corte da via, que através de um simples sensor de inclinação determina o caimento da nova camada. No entanto, precisa estar em conjunto com uma referência longitudinal para que esta inclinação transversal tenha regularidade com o avanço da execução da pavimentação.
 

Para a referência longitudinal, as opções de sistemas eletrônicos de nivelamento são divididas basicamente em dois grupos: por contato físico ou por sensor ultrassônico.
Contato físico: o mais comum são os esquis. Um conjunto mecânico que desliza sobre o solo e retransmite a mesa compactadora uma média compensada das irregularidades. Ou seja, quanto maior for a área de contato junto ao solo, maior será a compensação das irregularidades. Comercialmente, existem os esquis pequenos de 30 centímetros até os maiores com cerca de 6 metros.
 
 


Por contato físico, também há a opção de instalar cabo tensionado junto a estacas. Um apalpador faz a leitura deste cabo, que deve ser posicionado por uma equipe de topografia de maneira tensionada, com suporte em estacas posicionadas preferencialmente de 5 em 5 metros, e com o correto nivelamento longitudinal.
Este sistema é indicado em obras como aeroportos, onde é exigido altíssima precisão na regularidade do pavimento. É sugerido também para locais onde não haja uma referência externa como uma faixa de asfalto já existente ou calçadas.
 
 
 
 
Sensor ultrassônico: Há também a opção de um sistema sem contato físico, através de um sensor ultrassônico. Com cinco feixes emissores, o sensor faz um cálculo da média da regularidade do pavimento e a transmite para a mesa compactadora da pavimentadora de asfalto.
Este tipo de sensor é bastante prático em obras onde a camada de base é muito granular, impossibilitando um esqui mecânico de deslizar. Por ter menor precisão que o sistema por contato, o ideal é a colocação de um duplo sensor nestes casos.
Em obras de recuperação viária é uma ótima opção também, pois o sensor copia a faixa já existente, seguindo a média de regularidade desta camada.
 
 
Já para a referência transversal, que determinará a inclinação da pista, esta é realizada através de um sensor transversal Slope, que é posicionado na parte central da máquina e protegido contra vibrações. O sistema de nivelamento verifica a inclinação natural já existente, e através de um ajuste nos valores podemos determinar o caimento em % (porcentagem) para o lado direito ou lado esquerdo do equipamento. Por exemplo, mesmo que uma camada de base tenha caimento natural para o lado direito enquanto o projeto determina que a camada asfáltica tenha caimento para o lado esquerdo, o sistema de nivelamento transversal corrige este fator durante a aplicação do asfalto.
No entanto, para que haja eficácia na utilização do sensor transversal, é preciso que este esteja em combinação com um sensor longitudinal. Mesmo que a inclinação seja corrigida, não haverá regularidade se a pavimentadora estiver se locomovendo sobre um solo ondulado sem realizar a correção longitudinal de avanço.  A limitação do sensor de inclinação é de 6 metros de largura e aproximadamente 10% de caimento.
 
Todos estes sistemas são relativamente simples e de fácil uso. Depois de um treinamento rápido a equipe de pavimentação está apta a operá-los. O custos destes sensores custam menos de 3% do valor da máquina. Todos os parâmetros de operação e funcionamento são acionados através de um painel auxiliar localizado na mesa compactadora.
Se houvesse vontade política de melhorar a qualidade das obras viárias no Brasil, o uso destes sistemas seria obrigatório em qualquer tipo de obra de pavimentação asfáltica, desde uma pequena rua até rodovias de grande porte. Infelizmente, o que mais vemos nas cidades pelo país são ruas com pavimento totalmente irregular, sem proporcionar conforto e a segurança necessária.